sexta-feira, 27 de junho de 2008

Despedida de solteiro festejada na rua






O que era o “Baile do(s) Tremoço(s)”
De um estudo que espera a oportunidade para ser publicado na forma de “Contributos para uma Monografia de Santana” retirámos as “explicações” sobre o Baile dos Tremoços, como ali é referido.
“Na véspera do casamento, à noite, há um baile chamado “o baile dos tremoços” onde toda a gente pode dançar; à noiva não se vê o rosto, neste baile, por o tapar com o lenço que traz na cabeça, puxando-o demasiado para a frente, por andar triste, visto deixar dentro em pouco, o lar que a vira nascer e a convivência de seus pais e irmãos.
Quando o baile está em meio, os pais da noiva ofere­cem, a quem está no baile, bolos e tremoços distribuídos pelo pa­drinho e familiares da noiva; seguidamente, os pais do noivo oferecem vinho distribuído pelo padrinho e familiares do noivo.
É neste baile que as raparigas cantam umas quadras dedicadas à noiva, no momento que ela dança com o noivo, que são:
I
Eu tenho na minha horta
Salsa, coentros e goivos;
A primeira cantiga
Que se vai cantar aos noivos.
II
Parabéns te venho a dar
Mandada por Santo António
Amanhã te vai assentar
No livro do matrimónio.
III
Parabéns te venho a dar
Mandada por Santa Rita,
Deus queira que te juntes
Numa hora bem bonita.
IV
Amanhã vais à igreja
Linda rosa encarnada,
Deus te dê alegres dias
E largos anos de casada.
V
Amanhã vais à igreja
Raminho de erva cidreira,
Vais dar a despedida
Desse trajo de solteira.
VI
Viva o noivo mais e noiva
Que amanhã se vão casar,
Vivam também os padrinhos
Que os vão a acompanhar.
VII
Amanhã vais à igreja
Meu baguinho de romã,
Deus te dê boa sorte
Boa noite até amanhã.
in "Jornal de Nisa" - nº 258 - 25/06/08

BAILE DO TREMOÇO





O reavivar das tradições em Santana
Era sexta-feira, dia 13, véspera de casamento na aldeia do Arneiro (Santana-Nisa).
A coincidência do dia e da data, sempre associadas a “dias negros e de azar” para os mais supersticiosos, foi, pelo contrário, celebrada como um dia de festa e o reviver de tradições.
No Largo dos Pelómes, o principal da aldeia (este topónimo, noutros sítios pronuncia-se Pelames e terá a ver com as indústrias de curtumes, muito vulgares nas terras do interior), o povo juntou-se e recordou as despedidas de solteiro dos anos 50 e 60, quando o Baile do Tremoço trazia toda a população para a rua e fazia-a compartilhar da festa comunitária, promovida pelos pais dos noivos e que era a derradeira noite de solteiros dos jovens nubentes.
Tal como há 50 anos, houve música a rodos, não com o acordeonista ou o tocador de gaita de beiços como em tempos mais recuados, mas com um grupo de música popular, em cima de um palco improvisado, que tocou e cantou até fora de horas e a que se juntaram muitos artistas do povo, homens e mulheres, que recordaram, em uníssono, as modas de antigamente.
Para uma noite de festa tradicional, não faltaram os tremoços, o vinho e os bolos, distribuídos pelos pais dos noivos. E a dança, o “bálho” popular que inundou de alegria e contentamento todos os intervenientes nesta magnífica jornada de festa, convívio e espírito comunitário, ainda bem patente na freguesia de Santana e não apenas na utilização e partilha dos “fornos do povo”.
Para que o registo ficasse completo, nem sequer faltou a televisão e o Baile do Tremoço, no dia seguinte, através dos canais da SIC, percorreu o país e o mundo, fazendo lembrar que, apesar da crise e da perda de confiança, os portugueses ainda encontram motivos para sorrir, juntar-se e festejar, unidos por um ideal maior e que neste caso se chamou “reavivar da tradição”.
in "Jornal de Nisa" - nº 258- 25/06/08

Cantos e Recantos de Santana (I)



Subsídios para a História de Santana (I)

Folclore e Etnografia: As Saias do Arneiro
Cantigas ao desafio

Cantigas ao desafio
Comigo ninguém as cante
Comigo ninguém as cante
Que eu tenho quem mas ensine
Que eu tenho quem mas ensine
O meu amor é estudante
O meu amor é estudante
Que eu tenho quem mas ensine
O meu amor é estudante
Cantigas ao desafio
Comigo ninguém as cante

Há tanta gente no mundo
Há tanta gente no mundo
E alguns morrem a estudar
E alguns morrem a estudar
Mas não há nem um que diga
Mas não há nem um que diga
Quem fez a terra e o mar
Quem fez a terra e o mar
Mas não há nem um que diga
Quem fez a terra e o mar
Há tanta gente no mundo
E alguns morrem a estudar

Ó mar alto, ó mar alto
Ó mar alto, ó mar alto
Ó mar alto, sem ter fundo
Ó mar alto, sem ter fundo
Mais vale andar no mar alto
Mais vale andar no mar alto
Do que nas bocas do mundo
Do que nas bocas do mundo

Há no mundo quem aponte
Há no mundo quem aponte
Uma mulher quando cai
Uma mulher quando cai
Nasce água limpa na fonte
Nasce água limpa na fonte
Quem a suja é quem lá vai
Quem a suja é quem lá vai

Popular – harmónio e voz feminina (Nisa, Alto Alentejo)
Recolha de José Alberto Sardinha (1993) (in CD n.º 5 de "Portugal - Raízes Musicais", JN/BMG, 1997)
Nota: «Saias cantadas ao jeito de desafio, embora só por uma cantadora.» (José Alberto Sardinha, in *Guia de audição*)